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Chá dos 3

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Era uma Vez - Final




Outra Conversa entre irmãs

- Valentina acorda ou você vai se atrasar.

- Já vou... Estava sonhando.

- Você é tão sem imaginação que tem sonhos eróticos com seu próprio marido.

- Cris!!! Não era um sonho erótico. E ele é meu ex-namorado.

- Pelo menos você admitiu quem era com ele, já é um começo.

- Detesto quando você faz isso.

- Então por que você não admite que ainda gosta dele? Seria mais simples. E todo mundo já sabe.

- Mas eu não gosto dele!

- Posso pegar pra mim então? Porque se você não quer eu quero!!! Sempre tive uma quedinha pelo Érico e além disso tudo continuaria em família. Imagina que legal se eu fosse a madrasta do seu filho? Quem melhor do que sua irmã? E você seria cunhada do seu ex-marido.

- Gala Cristina você é louca!

- Louca é você de abandonar o bofe escândalo do Érico.

(Silêncio)

- Valentina eu estava brincando. Mais ou menos. Bem... Só o Papai me chama de Gala Cristina. Você gosta do Érico. Certo.

- Não quero mais falar sobre isso.

- Que pena, já que eu o vi ontem. Mas se você não quer saber...

- Vai, desembucha.

- Estava acompanhado de uma mulher. Ela era bonita. E eles pareciam se conhecer bem.

- Viu só. Ainda bem que pulei fora. Ele já está em outra.

- Às vezes você é tão tapada... Mas trocando de assunto, não vou poder te dar carona hoje.

- Mas você disse que me acompanharia na primeira ultra-sonografia.

- Disse mas não vou poder. A mamãe vai com você, já falei com ela.

- O que você está armando? A mamãe nem em casa está.

- Relaxa e deixa o resto comigo.

- Érico, o que faz aqui?

- A Cris pediu para eu passar aqui que você precisava de uma carona.

- Eu mato a Cris. Olha, eu me viro, não quero te atrapalhar.

- Se não pudesse eu não viria. Você não quer que eu vá?

- Não é isso, é que...

- Nós não precisamos conversar se você não quiser. É só me dizer onde quer que eu te deixe.

- Você não sabe?

- Não.

- Por que tudo entre nós sempre começa ou termina numa carona?

- Como pode um coração tão pequeno bater tão forte Valentina?

- É incrível mesmo. Sem dúvida a maior emoção da minha vida.

- Será que ele vai ser parecido comigo?

- E quem disse que é menino? E se for menina?

- Tudo bem. Só não sei se vou saber ser pai de menina.

- Vai sim. E vai ser um ótimo pai.

- Precisamos pensar numa casa maior.

- Como assim?

- Falo de uma casa pra três. Pra nós três. Quero você comigo.

- Não dá pra simplesmente deixar tudo o que aconteceu pra trás. Não dá pra recomeçar de onde paramos.

- E deixar tudo que vivemos pra trás pode?

- Já falei, não dá pra recomeçar de onde paramos.

- Tudo bem, então esteja pronta hoje à noite, 8 horas. Entendo que não dá para continuar de onde paramos, mas podemos começar de novo. 8 horas. E esteja pronta para se apaixonar.

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As oito horas ela estava pronta para se apaixonar, mas não estava pronta para a surpresa que viria.

Érico soube ser perfeito levando-a nos lugares que gostava de ir, reservando seu restaurante preferido e contando histórias engraçadas. Quando pensou que a noite estava terminando ele a levou para uma aula de dança. Sim, uma aula de dança, tipo “Clube dos Corações”. E foi tão divertido, tão íntimo. Sem dúvida a música era uma coisa que os unia, que os aproximava e que os ligava ainda mais.

Entre tropeços, esbarrões e voltinhas, o corpo foi encontrando seu lugar, sentindo a familiaridade do toque, do ritmo, do tempo. Em pouco tempo estavam sincronizados como se dançassem a vida inteira juntos.

Se fosse sincera consigo mesma Valentina admitiria que Érico era, literalmente, o seu par. Ela o amava e o admirava. Ele era o pai do seu filho. O homem que a apoiou em momentos difíceis, que dividiu a rotina e a cama com ela, que disse coisas duras que a magoaram, mas que também ofereceu o ombro, a lágrima e o amor quando precisou. Ele errou. Ela errou. Todos erram. E ele estava ali tentando arrumar as coisas, fazendo tudo do jeito dela.

Decisão difícil. Voltar ou não voltar? Tentar outra vez? E se não tiver volta? E se não combinarem? E se brigarem por bobagens? E se ele se apaixonar por outra mulher? E se a trair? E se o bebê chorar demais? E se não for boa mãe? E se ficar gorda? E se for um fracasso como mulher? E como vai ficar a bolsa de estudos?

São tantas dúvidas...

- Valentina?

- Sim.

- Sim o quê?

- Sim... Sim... Simmmmmmmmmmmmmmmmmm






Quantos caminhos e descaminhos percorremos até encontrar aquele que nos leva a realização dos nossos sonhos?

Valentina precisou mudar de casa, de cidade e de país. Sim, porque ela foi para Viena estudar.

No começo foi tudo difícil, o ambiente, a comida, a frieza das pessoas, a sua condição de mãe solteira num país estranho, a disputa dos novos talentos e dos que já eram reconhecidos e não queriam perder espaço, as distâncias físicas e culturais, a solidão.

O Érico ficou pelo Brasil esperando por ela, enquanto a Cris foi morar em Viena uns meses depois para dar uma força e fazer algum cursinho. É fato que ela passava mais tempo na internet conversando com os amigos ou desbravando a Europa, mas era sempre bom ter companhia.

Com o tempo Valentina foi acostumando com o ritmo de Viena, mas tinha consciência que a hora do nascimento se aproximava e sentia medo. E sentia saudade. E sentia a falta que o amor de Érico fazia.

Depois do seu sim tudo aconteceu muito rápido e logo ela veio para a Europa. Certo mesmo só o incerto e a promessa de que na volta ele estaria lá, esperando por ela.

Espera... Se esse ultimo mês tivesse um nome seria espera.

Mas tem vezes que os planos não se tornam realidade e o que se realizam mesmo são os sonhos. E quando Valentina acordou naquela manhã ensolarada de Viena, um sonho de 1,80m estava devidamente deitado ao seu lado na cama com um sorriso do tamanho de um bonde.

O coração disparou. Parecia que a bateria da Mangueira vivia dentro do seu peito. Agora tudo estava perfeito, agora estava em casa. Érico era a sua casa.


O tempo era pouco e o cansaço grande, mas viveram intensamente aquele mês como dois namorados em lua-de-mel. E para felicidade geral, o Érico conseguiu um emprego por lá e decidiu ficar definitivamente.

Violeta chegou como os primeiros ventos do inverno, de mansinho, mas já trocando as estações, mudando a casa, a vida, a alma. Chorava pouco, mas exigia atenção, sem nem se dar conta que mesmo antes de nascer já havia se tornado o centro do mundo.

Quatro anos já haviam se passado desde a chegada de Valentina a Viena. A bolsa já havia chegado ao fim e ela estava naquela fase em que alguma decisão precisa ser tomada. Sabia que não tinha a mesma disponibilidade que antes, ainda mais depois que a Cris voltou para o Brasil. A vida na Europa também não era fácil, muitos gastos, distância da família. Com o tempo tudo isso parecia pesar mais. Era hora de voltar. Voltar para casa.

O Érico concordou logo. Ele também já não via a hora de voltar. Nada como a terra da gente, mas antes uma coisa precisava ser feita. Uma coisa importante.

Se Viena era a cidade da música e do amor, Valentina teria as duas coisas. A música e o amor estavam intrinsecamente unidos em sua vida. Amava a arte, amava o amor e era amada por um homem. E saberia disso de uma maneira nada convencional.

Ultimo ensaio, emoção à flor da pele, Valentina chega mais sensível do que nunca. Despedidas são sempre difíceis, mais ainda quando se faz uma família. Mas era chegado o momento.

Estava tudo tão escuro e tão silencioso que ela começava a desconfiar. O que estavam aprontando?

- A-H M-E-U D-E-U-S! Érico é você?

Era.

Estava lá, no meio do palco, com um microfone na mão e todo o pessoal da orquestra acompanhando. E começou a cantar Sway, a música que aprenderam a dançar no dia em quem ouviram o coração de Violeta bater pela primeira vez. Era ridículo, mas era a música deles. Era ridículo, mas estavam dançando na frente de todo mundo. Era ridículo, mas era lindo.


No final da música, entre sorrisos e lágrimas ela sente um puxãozinho de leve na saia, era Violeta com um presentinho para mamãe.

- Um livro filha?

- ‘Abe mamãe’

E Valentina não parou mais de chorar

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A volta para o calor da família trouxe boas novas a todos. Era um casamento para ser organizado, uma neta para ser mimada pelos avós, mais um novo namorado da Cris para ser apresentado. Para o Érico as notícias também estavam boas. Assim que chegou recebeu a visita do antigo chefe e fecharam uma parceria. Para Valentina as coisas andavam meio paradas profissionalmente, mas ela fez audições para a Orquestra Sinfônica Brasileira e corria a boca pequena seu favoritismo. Mas os preparativos do casamento eram tantos que ela ainda não se preocupava com essas coisas.

O casamento foi tão simples que até pareceu sofisticado.

Foi durante o dia, na casa de campo do padrasto do namorado da Cris. Uma confusão.

A natureza se encarregou da decoração e o clima era de sol. Violeta levou as alianças e foi a daminha mais bonita que alguém poderia ser. O vestido foi escolhido com a ajuda da mãe e tinha rendas, transparências e romantismo para dar e vender.

Seus amigos estavam lá, sua família, sua filha e seu noivo. Todas as pessoas importantes, as pessoas que mais amava estavam lá.

Quando pisou no tapete vermelho de braço dado com seu pai, vendo todos os sorrisos, a alegria compartilhada, o nervosismo do Érico, a irreverência da Cris, o chilique e as lágrimas da sua mãe, toda a história da sua vida passou como um filme. Era um clichê, mas era real. Lembrou de como toda aquela história começou, dos seus sonhos e birras, e se deu conta de que não precisava dormir na sombra das pirâmides para ser feliz. A felicidade era aquilo.

Toda a sua história tinha uma trilha sonora, na maioria das vezes internacional, mas naquele momento a única música que ela pensava era em português, porque ela não pensava em mais nada além de “eu te amo”.

Eu sei que vou te amar era a trilha da sua história naquele momento, porque a trilha da sua vida era o amor, sempre o amor.

FIM












Um comentário:

  1. Aiiiiiiiiiii - só um comment! Pena que Acabou!!! Deliciosamente viciante!

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