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Chá dos 3

quinta-feira, 3 de março de 2011

Acostumada com a vida virtual, ela teve medo de ser feliz na vida real.


Eram dois desconhecidos até se encontrarem na internet.

Era madrugada de sábado em uma sala de bate papo sobre o filme O Senhor dos Anéis.

Ela odiou o filme. Ele era fascinado pela saga.

Ambos entraram em uma discussão violenta.

Ela achava ridículo que alguém da idade dele tivesse apelido por causa de um personagem do filme.

Ele a achava meio burra por não gostar de J. R. R. Tolkien.

Levaram a discussão do chat para a particularidade do velho icq. E de tanto discutirem, perceberam que tinham mais afinidades do que diferenças.

Passaram a conversar com freqüência, tornaram-se confidentes, divagavam sobre o cosmos, a desigualdade social, cinema, vida real e a cor verde.

Falavam sobre tudo. Falavam sobre o nada.

Ele tinha 23 anos e as primeiras preocupações da vida adulta.

Ela tinha 18 e todos os sonhos que se permitia.

Ele fazia publicidade e sonhava em emplacar uma grande campanha.

Ela fazia ciências sociais e sonhava mudar o mundo.

Ele contou a ela sobre o capitalismo, 2Pac, tatuagem e as dificuldades pra escrever a monografia.

Ela falou sobre pluralidade cultural, viagens arqueológicas, música exótica e Érico Veríssimo.

Ele quase a convenceu a ler O Senhor dos Anéis.

Ela quase o convenceu a gostar de Legião Urbana.

Comemoram juntos quando ele defendeu a monografia. E quando ela conseguiu o primeiro emprego também.

Eram estranhamente íntimos. Eram intimamente estranhos.

Sabiam tanto um do outro. Só não conheciam suas verdadeiras identidades.

No anonimato do icq ela se sentia segura. Ele se cansou dos joguinhos e queria conhecê-la.

Como qualquer garota da sua idade ela tinha medo de que ele fosse um maníaco. Ele queria convencê-la do contrário.

Falou sobre seus pais, contou seu nome, sua cidade, onde estudava e morava e para ironia ou bênção do destino ela percebeu que o conhecia.

Já o vira muitas vezes na faculdade, o cara de mochila laranja da agência experimental. Aquele com uma tribal na perna e que esbarrou nela uma vez. Ele mesmo. O Pedro.

Ela abriu o jogo e contou que já o conhecia. Feliz com a novidade ele combinou de encontrá-la no outro dia.

Ele foi como combinado, mas ela nunca apareceu.

Pedro era legal demais, especial demais, impossível demais.

Ficou no lugar de onde nunca deveria ter saído: sua imaginação.

Acostumada com a vida virtual, ela teve medo de ser feliz na vida real.


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Passados 10 anos muita coisa mudou.

Pedro formou-se no semestre seguinte e nunca mais encontrou sua amiga de icq. Ganhou uma bolsa de pós-graduação em outra cidade e aparece de vez em quando pra matar a saudade dos amigos.

Ela mudou de curso, mudou de emprego, mudou de opinião.

Dia desses, numa dessas engenhosidades da vida, encontraram-se numa palestra.

Ela não teve dúvidas. Foi falar com ele.

- Oi. Eu sou a Luísa, sou publicitária e conheço você. Sei que estou um pouco atrasada, mas há dez anos atrás eu cursava ciências sociais, curtia Legião Urbana, tinha todos os sonhos do mundo e um encontro com você. Ainda quer me conhecer?

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O que aconteceu depois? Só o tempo pra dizer...

Meu amor,a vida passa num instante... E um instante é muito pouco pra sonhar...



4 comentários:

  1. Pois é amiga!

    As vezes temos de ser mais ousadas não é?
    Pode ser ruim, sim, mas pode ser muito legal também.

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  2. Meeeeeeeeeeeeeu deus!!!

    Adorei esta história!!! Que linda!!! Barbaridade...

    Estou torcendo para que seja verídica, mas tenha um final super feliz...

    =)

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  3. Potira, Como diria a Pri, é uma história ficticiamente verdadeira.
    Parte é verdade, parte é ficção. Na realidade, todas as histórias que escrevo são inspiradas em um fato verídico. Mas nunca conto o que é verdade... deixo que cada um crie uma história própria do que lê.
    O legal é ver que mesmo dentro de nossa particularidade, todos vivemos histórias parecidas.Alguns se manifestam perguntando se é verdade ou pra contar que viveram algo semelhante.

    Obrigada pelo carinho, pela torcida e por acompanhar o blog....

    Se puder, vai tomar um chá lá em casa... a próxima história contada aqui pode ser pra você....

    bjinhos queri!

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  4. Amiga, suas histórias estão me deixando sempre na expectativa, ou seja, esperando a próxima. São boas e você tem o dom!!!
    Mas, néh.... Não sei o porque mas esta história me lembra alguém... Talvez eu mesmo!

    Bjus

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