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Chá dos 3

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Grandes Mirtes da História

Elas são suprimidas dos livros. Elas são ignoradas pelas aulas. Elas são excluídas dos documentos. Estudiosos minimizam sua importância. Cientistas negam sua presença. Mas elas sempre estiveram ali. Sua primeira aparição conhecida data do momento em que o homem começou a andar de forma ereta. Assim que nosso ancestral, com muito esforço, conseguiu levantar apoiando-se apenas nas duas pernas, ela disse: "Minino, aproveita que ficou de pé e vai botar um dedinho de água na samambaia, a coitada tá numa secura". E então o homem caminhou pela primeira vez. Sim. Sempre existiram Mirtes.

Ninguém sabe, mas foi uma delas quem assinou parte do projeto de construção do incrível templo de Karnak, o principal do Egito Antigo. Infelizmente, por culpa de tempestades de areia, maus-tratos e da idade de mais de 4 mil anos, vários detalhes planejados por Mirtes (na época, chamada de Mirtesepshut, ou "aquela que entende desde ponto cruz até chá para pedra no rim") acabaram sendo perdidos. Como a laje que embelezava a entrada do templo e o puxadinho dos fundos onde sacerdotes falavam da vida alheia enquanto olhavam as ruas de Tebas. Porém, se prestarmos atenção no canto mais escuro e abandonado do local, veremos o hieróglifo de uma indefectível senhora com permanente no cabelo, roupa de viscose e bijuteria de miçanga.

Todos nós conhecemos a saga dos Três Reis Magos. O que desconhecemos, no entanto, é que havia uma quarta figura na caravana daquela noite. Mirtes também seguia a estrela de Belém e, como seus outros três amigos (na verdade, amigos da sinuca do Válti, marido de Mirtes), levava um presente ao menino Jesus. Chegando até a manjedoura, ela foi logo aceitando um café e puxando prosa com a mãe do bebê. "Maria, cê tá corada, nem parece que acabou de parir! E esse meninão? Todo forte, benza Deus, viu! Meu Edgar nasceu assim também, parrudo, uma beleza". Após os reis entregarem seus presentes, foi a vez de Mirtes. "Não reparem. É mixo, mas é de coração!", disse, enquanto Maria e José desembrulhavam o conjunto "ornado" de babador, cueiro e sapatinho verde-água.

A impressionante viagem que levou, em 1492, Cristóvão Colombo ao continente americano, é recontada como uma das grandes jornadas do homem. Só que foi uma mulher a responsável pela viabilização de tal feito. Acontece que o rei da Espanha não queria patrocinar a expedição de forma alguma, e Colombo estava quase desistindo quando Mirtes interveio em seu favor. Ela foi dar uma palavrinha com o rei. "Seu Fernando, vi dizer que o senhor não quer apoiar o Colombo". Diante do silêncio, continuou. "Colombo é de confiança. Não mexe com tóchico, nem com bebida, nem com jogatina... É moço direito". Então o rei concedeu o patrocínio. No dia da partida, Mirtes gritou para o navegador "Não esquece de levar uma japona!". Foi esse conselho que aqueceu Colombo diversas vezes no frio das noites.

Michelangelo, hoje reconhecidamente um mestre, também teve uma Mirtes em sua vida. Ela era a madrinha que lhe levava bolinho de chuva, pois o achava muito pálido. "Cê precisa comer, minino, senão vai sumir! Saco vazio não pára de pé". Em uma das visitas, Michelangelo, então um jovem rapaz sem grandes aptidões artísticas, reparou na bolsa que Mirtes estava usando. "Fui eu que fiz, com lacre de latinha de refrigerante", contou-lhe quando viu o interesse do afilhado. Então ela resolveu mostrar a ele tudo o que sabia fazer: imãs de geladeira de biscuit, roupinhas de crochê para liquidificador, cestos de canudos de jornal, mesas de mosaico de azulejos, panos de prato pintados... Michelangelo ficou encantado. Para tentar fazer coisas tão belas quanto os artesanatos da talentosa Mirtes, começou a trabalhar o mármore. Criou, com isso, esculturas como Pietá e David.

Embora omitida, uma outra Mirtes participou ativamente dos episódios que levaram à Revolução Francesa. Ela sempre teve raiva de Maria Antonieta, porque a "peste" (como se referia à monarca) lembrava a malvada da novela das 8 que abusava da pobre mãe. "Tá certo que aquela era Maria de Fátima, mas essa tal de Antonieta também não é flor que se cheire", contava às colegas do subúrbio parisiense. Dizem que a inimizade floresceu quando a rainha negou a receita de brioches pedida por Mirtes. "Pedi com toda educação, e aquela esnobe negou, vê se pode". Quando Maria Antonieta foi levada à guilhotina, Mirtes sentiu-se vingada. Aliás, foi nossa heroína quem deu o nome de Iluminismo à prolífera época que se seguiu, uma vez que ela foi a única precavida a ter um "fuzil" sobrando quando cortaram a energia elétrica.

Creditam o famoso "Dia do Fico", 9 de janeiro de 1822, a grupos políticos que fizeram um abaixo-assinado para que Dom Pedro I não saísse do Brasil. Mas foi uma Mirtes quem implorou por sua permanência. O príncipe regente já estava de saída quando ela lhe pediu para esperar um bocadinho, pois o bolo de fubá que a moça da TV ensinou estava quase pronto. "Pedro, não me vai fazer uma desfeita dessas! Senta no sofá novo das Casas Bahia que eu vou passar um cafezinho pra gente", disse. Dom Pedro, com sua educação européia, não teve como negar. Foi então que ele suspirou e proferiu a célebre frase "Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga à Mirtes que fico". E acabou comendo tanto bolo de fubá que, reza a lenda, proclamou a independência do país com uma baita dor de estômago. "Quem mandou ter o olho maior que a barriga?", comentou a comadre quando soube do acontecido, dias depois.

E isso está longe de ser tudo. Ainda temos a Mirtes que foi queimada durante a inquisição por ser adepta das simpatias e virou ícone até para Joana D'Arc; ou a Mirtes que bolou todo o esquema da invasão de Tróia (embora, em sua idéia inicial, o cavalo de madeira fosse um elefante de espelhinhos); ou a Mirtes que, de tanto ouvir Roberto Carlos em último volume por toda a madrugada, fez com que Getúlio Vargas se matasse. E tantas, tantas outras Mirtes que o passado esqueceu. Mas que sempre faremos questão de lembrar.

* * * * * *

Fonte: Garotas que dizem Ni

Mas Mirtes, que bapho é esse que tá rolando no twitter?

Um comentário:

  1. Tu enviastes este texto por e-mail algum tempo atrás, achei muito engraçado e foi ótimo reler aqui no blog...

    =)

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