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Chá dos 3

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Era uma Vez (Parte 2)


Primeiras Impressões

Nem parecia que quatro meses já haviam se passado desde sua chegada. E era impressionante como a cidade ainda a surpreendia. Não se cansava de observar as casas, o tempo, as pessoas. Cada esquina era uma surpresa.

Era inegável, também, que usava esse pretexto para fugir da solidão. Há quatro meses sua vida se resumia a ensaio, casa e escola de música. Tudo bem que o projeto de espetáculo no qual estava envolvida consumia um tempo enorme, mas todos os companheiros de espetáculo já tinham casa, família ou outro lugar pra voltar. Por isso andava batendo ponto todo dia numa livraria que também era cafeteria. Não queria se sentir sozinha.

Num desses dias de análise da morte da bezerra e exercício de nadismo olímpico, entrou na livraria um homem incrivelmente incrível. Forte, charmoso, com uma coisa de testosterona se espalhando no ar. Parecia um pouco o Wolwerine. Parou para olhar a estante de livros bem ao seu lado e ela não pode deixar de ver, assim tão pertinho, que além de malhado ele era cheiroso. E pelo visto era intelectual!!!

Quinze minutos passados e já estava ficando irritada com tanto pega e larga de livros. Era bom demais para ser verdade. Wolwerine na verdade era um selvagem.Para o bem e para o mal. Ele devia ser um daqueles trogloditas da educação física que malhavam tanto o corpo que esqueciam de exercitar o cérebro. Mais cinco minutos de pega e larga e ela não se conteve:

Valentina : - Por que tanta dúvida se você não vai levar nenhum?

Wolwerine: - Você está falando comigo? (Sorrindo arrasadoramente)

V: - Sim. (Um esboço de sorriso querendo corresponder)

Mais um minuto de silêncio.

W: - Decidi. Vou levar esse aqui.

V: - Então você lê Foucault? (Pensei que só fazia personagem de X-men)

W: É, pois é. Você pode embrulhar para mim?

V: - Você acha que eu sou vendedora é?

W: - Não é?

V: - Não, não sou. Por acaso tenho cara de vendedora?

W: - Pela roupa até pensei, mas pelo bom humor percebe-se que não. E antes que eu esqueça, bege não te cai bem viu?

(Touché)

Ele havia vencido essa, o espertinho. Quase teve ímpetos de tirar aquele sorrisinho de canto no tapa. Mas bem feito pra ela, quem mandou mexer? E honestamente, o cara podia ter todos os defeitos do mundo, mas em uma coisa ele tinha razão, bege não caía bem mesmo. E ele ficava ainda mais interessante assim, provocador.

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Aquela história com o Wolwerine, à tarde, não saía da sua cabeça. Ainda bem que hoje era noite de sarau na livraria e ela poderia se distrair um pouco.

Na hora de se vestir inevitavelmente teve dúvidas. Se os homens soubessem o quanto interferem no gosto feminino ficariam admirados. Escolheu então um vestido azul que não tinha erro. Todos diziam que ela ficava bonita de azul.

A noite estava incrível e regada a poesia e palavras bonitas. A noite estava só começando. A noite prometia.

De longe ela viu o vulto dele e certo entusiasmo começou a surgir. O que o Wolwerine (tinha que parar de chamá-lo desse jeito) fazia ali? Ai meu Deus, será que ele lê Foucault mesmo? E o por que ele estava ajudando no balcão?

V: - Então é aqui que você se esconde Wolwerine?

W: - Se vai continuar com as provocações garota do bege, talvez seja melhor nos apresentarmos devidamente. Eu sou o Érico e minha maior qualidade é ser imprevisível.

V: - Sou Valentina e minha maior qualidade, como você deve ter visto, é ser inconveniente. (Sorrisos). O que você faz aqui Érico que não é Veríssimo? Veio declamar seus poemas ou vai se esconder atrás do balcão pelo resto da noite?

E: - Minha mãe é dona da livraria e venho de vez em quando ajudar. Não sou muito bom com poemas, mas se você chegar mais perto posso te contar alguma coisa sobre Foucault.

V: - Boa tentativa espertinho, mas acho que antes de me contar você precisa entender não é? (Risos) Além disso, eu prefiro viver histórias ao invés de ouvi-las.

(Xeque-mate)

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A brincadeira estava ficando divertida, mas o foco de Valentina agora era o espetáculo. Andava totalmente compenetrada nos ensaios que iam até bem tarde e com a aproximação da apresentação praticamente morava no teatro. Nesse dia, inclusive, estava ensaiando desde a manhã.

No final da tarde todos param para uma pausa e ela especula com os colegas o porquê daquela movimentação toda na cabine do som. Pelo entendeu o maestro tinha um amigo analista de sistemas que estava criando um tipo de software para auxiliar na leitura das partituras. Alguma coisa difícil e matematicamente complicada de entender, mas que melhoraria a qualidade do espetáculo.

Parecia que a coisa não estava dando muito certo então o maestro pede que façam um teste de som. E lá na cabine, inteiramente compenetrado, o analista de sistemas tão envolvido com sua obra não pode deixar de ouvir a música que o chamava.

E para sua surpresa a solista do espetáculo tocou Coldplay no violino. E tocava tão apaixonada que ele não pode tirar os olhos dela durante toda a apresentação. Nunca vira uma mulher tão fascinante e entregue. Nunca se sentira assim tão conectado com alguém. Nunca se sentira tão parte de alguma coisa.


O ensaio termina e Valentina se depara com Érico nas escadas. Surpresa ela não entende a presença dele ali. Ambos estão um pouco sem jeito.

V: - Oi. Você por aqui?

E: - Pois é, eu sou amigo do maestro e vim testar o software para o espetáculo de vocês.

V: - Ah. Então foi você que fez o teste?

E: - Para a minha felicidade sim. Você foi incrível, é uma artista. Você é uma pessoa muito surpreendente.

V: - Poxa, eu fico sem jeito assim. Você também me surpreendeu. Legal a sua iniciativa de nos ajudar.

(...)

V: - Bem, eu vou indo então...

E: - Você quer uma carona?

V: - Não, tudo bem... Eu gosto de caminhar...

E: - Olha Valentina, eu sei que a nossa história começou atravessada, mas eu quero te conhecer melhor. Vem jantar comigo e eu te conto tudo sobre as filmagens de X-men.

V: Está certo Wolwerine, você está preparado para um interrogatório? Além disso, tenho umas perguntinhas para fazer sobre um tal Foucault, conhece?

Um comentário:

  1. Quando é o próximo capitulo, hein, hein... Estou havido por mais....

    Deliciosamente empolgante ler estas história....

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